sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Apple e facebook criticadas por oferecer às suas funcionárias o congelamento de óvulos

Vitória Pynchon, consultora legal e empresária, analisou a recente oferta dos gigantes da tecnologia Apple e Facebook de oferecer o congelamento dos óvulos de suas trabalhadoras, e assinalou que isso não traz benefícios para as mulheres trabalhadoras e que, pelo contrário, trata-se de uma “intromissão do trabalho na sua vida reprodutiva”.

Diversos meios de comunicação informaram recentemente que tanto Facebook como Apple acrescentariam o congelamento de óvulos nos seus programas de “benefícios” para as mulheres que trabalham em suas companhias.

Conforme informa a revista econômica Forbes, um representante da companhia fabricante do iPhone explicou a medida, indicando que querem ajudar “as mulheres na Apple para que façam o melhor trabalho de suas vidas ao mesmo tempo que cuidam dos seus seres amados e criam as suas famílias”.

Em um artigo publicado em 18 de outubro através da rede social LinkedIn, intitulado “Cuidado com o empregador que quer a sua fertilidade”, Vitória Pynchon assinalou que com medidas como as anunciadas pelo Facebook e Apple, “os empregadores da tecnologia de ponta e STEM (siglas em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) não querem apenas as suas horas noturnas, querem a sua fertilidade”.
“Você deveria vender a sua fertilidade para a Apple ou para o Facebook?” questionou Vitória, para advertir que estas empresas já não estão falando de benefícios como “treinadores pessoais gratuitos, lavanderia ou comidas gourmet no escritório. Estamos falando sobre a intromissão do trabalho na sua vida reprodutiva”.


Entrevistado pelo New York Times em 17 de outubro, Gerald Ledford, pesquisador do Centro para Organizações Efetivas da Escola de Negócios Marshall da Universidade do Sul da Califórnia, assinalou por sua parte que “estes benefícios não são oferecidos por generosidade. São oferecidos porque as organizações querem que os empregados trabalhem 24/7 (as 24 horas, os sete dias da semana)”.


“Se o trabalhador nunca precisa sair para ir à lavanderia, à academia, para comer ou inclusive para dormir, pode trabalhar o tempo todo. São algemas de ouro”, criticou.


Vitória Pynchon destacou que “não há nada amigável à família em um lugar de trabalho que oferece às mulheres a ‘oportunidade’ de adiar a procriação e a criação para mais tarde onde supostamente será mais ‘conveniente’ ter filhos”.

“As mulheres precisam saber disso. Do ponto de vista do seu empregador, nunca é conveniente que tenha um filho. Do ponto de vista do seu empregador, seria mais rentável espremer você ao máximo durante os anos nos quais todos, homens e mulheres, trabalham por um salário mais baixo”.

Vitória recordou que quando ela era uma jovem advogada novata, “as poucas (muito poucas) mulheres que me precederam me disseram que eu ‘não podia’ ter filhos até que conseguisse ser sócia”, por que, no mundo trabalhista, criticou, as mulheres são percebidas “como um valor em queda no momento em que têm filhos”.

“O que aconteceu foi uma geração inteira de mulheres (a minha) que foram forçadas a escolher o ‘caminho da carreira’ ou o ‘caminho da maternidade’. Para aquelas de nós que escolhemos o ‘caminho da carreira’, centenas, milhares, provavelmente dezenas de milhares, sofremos anos, e às vezes mais de uma década, de tratamentos de fertilidade, que, se seguiram com uma gravidez aos 40 anos, que normalmente significou três a seis meses de descanso na cama”.

Vitória denunciou que, em vez de congelar os seus óvulos, o que os empregadores devem às mulheres é “o mesmo tipo de vida que oferecem aos seus colegas homens que, oh, tão convenientemente, nunca ficam grávidos. Eles, entretanto, têm famílias. E nunca foi problemático para os homens ter filhos”.

“De fato, o bem-estar financeiro dos homens aumenta quando têm filhos, ao mesmo tempo em que os salários das suas colegas femininas que têm e criam filhos diminuem precipitadamente”.

A consultora legal e empresária lamentou que mulheres que foram “altamente elogiadas repentinamente se encontram, como novas mães, carregadas de críticas subjetivas negativas questionando a sua dedicação, lealdade e habilidade para concentrar-se. Como se ainda não tivéssemos aprendido como usar nosso cérebro e nosso útero ao mesmo tempo”.

“Em uma economia do conhecimento, já não fazemos dinheiro para os nossos empregadores de acordo com o tempo que levamos para pensar em um novo produto, ou armar um plano estratégico para a seguinte aquisição ou fusão. Os trabalhadores do conhecimento vendem a sua habilidade, o seu treinamento, a sua propriedade intelectual, não o número de horas que se sentam em um escritório”.

O que as mulheres precisam e merecem, assinalou, “é uma nova medida para medir o valor do nosso trabalho”.

“A oferta de um empregador de financiar o atraso da maternidade coloca muitos pontos de exclamação ao final do conselho que me deram de não conceber até que seja sócia. Se você não aceita esta oferta generosa e tem os seus filhos ao final de seus 20 anos ou de seus 30 anos (como a evolução ou Deus planejaram que o faça) a sua lealdade será questionada, o seu valor descontado, a sua vida –e a de sua família– mercantilizada?”.

Para Vitória, que está deste lado “de uma longa carreira empresarial e legal de uma mulher sem filhos, tudo o que posso dizer é: resiste”.

“Você merece um trabalho amigável à família, não uma granja de ovos”, concluiu.

Para ler todo o artigo de Vitória Pynchon, em inglês, ingresse em: https://www.linkedin.com/today/post/article/20141018172333-11435719-beware-the-employer-who-wants-your-fertility

(Fonte:  ACI Digital)

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