domingo, 30 de abril de 2017

A Ferrugem "daquilo que poderia ter sido e não foi"

Deixe para traz todas aquelas ideias que te perseguem fazendo você pensar "naquilo que teria sido se..." Acredite, o que teria sido não existe, e, ainda que pudesse existir, haveria uma miríade de possibilidades infinitas tanto quanto as análises combinatórias e outras expressões matemáticas poderiam equacionar.
          A vida é o aqui e o agora. Não vale a pena ficar vivendo com a perspectiva em flashbacks tentando imaginar o que não aconteceu. Pense nas escolhas que você tem daqui para frente. Pense antes sabendo que aquilo que vai ficar para traz não volta. Não decida nada querendo uma chance de fazer o retorno na próxima estrada, porque quando você fez a sua escolha a estrada também mudou.
          Esse pensamento que te persegue é como uma ferrugem que te corroe lentamente, só que por dentro. Ela dilacera aos poucos seus órgãos e você não percebe muito cedo. Na verdade, esse pensamento te paralisa e te impede de andar de cabeça erguida e de seguir em frente com orgulho e confiança.
          Uma vez tomada a decisão, quando medida e bem pensada, você pode apenas supor algumas possíveis situações e, se quiser, pode escolher o que será menos doloroso, o que será mais lucrativo, o que será mais vantajoso, o que será mais seguro. Porém, são apenas previsões muito simplistas, você de fato nunca saberá o que teria sido. 
          Se você escolheu casar com o primeiro namorado, se você decidiu se separar, se você optou por estudar Letras e não Farmácia, whatever - não importa, não adianta ficar se lamuriando pelo que deixou de fazer. Existe um mar de possibilidades tantas quantas de estrelas no céu ou gotas no oceano. Não vale a pena se martirizar tanto. Essa cobrança está na sua cabeça querendo te culpar de coisas que nem sempre foram sua culpa. Você não precisa sofrer tanto assim. Viva com o que você tem agora.
          O mundo dá voltas, é bem verdade, mas não tente reconstruir o que não foi no agora porque você estará cometendo um desastre quando não um suicídio. Pense que pessoas nasceram e morreram depois disso tudo. Pessoas se conheceram e se casaram e tiveram filhos. Não é nada produtivo nem assertivo voltar no tempo como se essas novas realidades inexistissem. 
          Não procure aquele ex-namorado ou namorada de vinte anos, acredite, a vida deles andou e eles fizeram outras escolhas, trilharam novos caminhos. Interferir no agora pode ser o caos na sua vida e na vida deles também. Deixe tudo como está. A vida se encarrega de corrigir o curso do rio. Não tente fazer por você mesmo.
          Se você tem filhos, tente ensiná-los a não se arrepender de suas escolhas. Ajude-os a pensar bem antes de decidir. E, não condene ninguém por ter escolhido fugir com o primeiro namorado porque estava apaixonada, por ter feito um aborto, por ter abandonado os estudos para casar. Mais do que tudo, as pessoas precisam se sentir acolhidas em suas decisões, mesmo que elas possam se arrepender delas, ficar culpando não ajuda, só piora.
          Há pessoas que adoecem por dentro por culpa. Segredos escondidos e guardados a sete chaves. A vergonha, o medo do julgamento, a falta de perdão (muitas vezes de auto-perdão), pode matar as pessoas. Essa morte não é uma morte súbita, é uma morte lenta, uma morte amarga, uma morte dolorosa. A culpa é um veneno poderoso e sutil que entra na corrente sanguínea imperceptivelmente e vai destruindo todos as células de defesa. Há pessoas que têm câncer causado por mágoas e ressentimentos. Pessoas que externamente são calmas, prestativas, educadas e gentis. Por dentro são uma panela de pressão prontas para explodir, mas têm um auto-controle porque aprenderam que precisam ser sempre bondosas e generosas. Pessoas religiosas são as que mais sofrem porque aprendem que devem conter os sentimentos de raiva de angústia.
          Aprenda desde cedo que o corpo cobra por isso. Você guarda dentro de si e depois isso tudo se transforma em doenças. Ame e perdoe sempre, perdoe de verdade. Perdoar é de fato não mais cobrar por aquilo, não é esquecer. O perdão vem do coração, o lembrar da memória, são duas coisas diferentes. Você vais sempre se lembrar do que aconteceu, mas a partir do momento em que você perdoou você não pode mais se sentir afetado. Sim, porque o que fere é o afeto. O afeto doe, machuca. O perdão cura a ferida, mas a cicatriz permanece. E, quando você olha para a cicatriz você lembra do que aconteceu, mas não doe mais.
          Ame-se, perdoe-se, siga seu curso. Permita-se viver e ser feliz, escolha isso hoje, escolha isso agora, escolha isso já!

Nenhum comentário:

Postar um comentário